terça-feira, 17 de setembro de 2019

Um Fluxo de Mudanças


Luiz Baltar é um homem, morador do subúrbio da Zona Norte do Rio de Janeiro. Formado em gravura pela Escola de Belas Artes (UFRJ), em fotografia documental pela Escola de Fotógrafos Populares, pós graduado em Fotografia e Imagens pela UCAM, mestrando do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes (UFRJ) e, atualmente, trabalha como fotógrafo documentarista. Acredita na fotografia como forma de expressão ativista e crítica, daí sua busca em estabelecer um diálogo entre fotografia e questões sociais, sobretudo no que diz respeito ao olhar sobre a cidade. Utiliza como tema central os centros urbanos, que com a câmera do celular, registra seu dia a dia pela janela dos ônibus, ou até mesmo andando nas ruas o dia a dia de cariocas, que inspiram sua arte 
Atualmente, esse artista expõe suas obras no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, com curadoria de Marcia Mello. A exposição apresentada recebe o nome de “Fluxos” pois retrata o cotidiano do próprio artista que mora em uma zona marginalizada da sociedade mas que percorre várias regiões durante seu dia, demonstrando a diferença entre elas. Seu foco nessa exibição foi o de retratar pessoas que não possuem voz na mídia, indivíduos que habitam regiões carentes de serviços e apoio do Estado e que apenas são transmitidas de maneira triste, carregada de angústias, como se as pessoas daquela região fossem basicamente sofredoras. Assim, seus registros fotográficos realizados seja dentro de um ônibus, uma van ou até mesmo a pé, ressignificam esses espaços urbanos estigmatizados, que através de colagens uma foto após a outra, completa esse caminho percorrido durante o dia retratando não só mudanças físicas como econômicas e sociais na vida dos Cariocas. 
 
Escolhemos essa obra pois sintetiza bem tudo o que Luiz Baltar, o artista, propõe com a sua exposição. Inicia-se com uma imagem de um helicóptero rondando o que aparenta ser uma favela, que é a forma mais comum que as pessoas que não vivem nessas comunidades enxergam esse local, com operações, bala perdida, com a mídia e a polícia reportando tudo durante toda a confusão como se aquele local apenas se baseasse nisso, assim como na oitava foto, mulheres vivendo normalmente mas com policiais rondando o seu dia a dia com armas pesadas e seus semblantes faciais demonstrando naturalidade naquela situação. Já as outras fotos, retratam um cotidiano comum, naturalizado da vida dessa parcela da população, brincadeiras por parte das crianças, uma vida normal acontecendo, pessoas indo trabalhar, fazendo artesanato e gente vivendo. Ou seja, apenas nessa disposição de fotos temos um contraste entre o que os meios de comunicação passam do que seja uma favela e o que ocorre dentro dela contra uma imagem de um dia a dia comum e corriqueiro, pessoas com dificuldades que resistem para sobreviver, mas que lutam pelo melhor e vivem suas vidas da maneira mais prática possível. 
Em suma, a exposição de Luiz Baltar se mostra muito necessária nesse ano de 2019 com tantos extremos vividos, uma população que não sabe em quem acreditar, uma mídia que é a fonte principal de adquirir conhecimento, manipulação da informação sendo naturalizada e cada vez menos as pessoas circulam em todos os bairros da sua própria cidade. Dessa forma, ressaltamos a importância de ter nesse lugar de fala um homem que vive intensamente esses dois lados e que sabe captar isso de uma forma tão emocionante, delicada e simbólica que vira mais do que apenas resistência e um grito de escape das amarras sociais, vira arte, arte que emociona. 


Por: Camila Carreiro, Francisco Kalume e Liz Cerqueira.

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