terça-feira, 17 de setembro de 2019

Fluxos, pelos olhos de Luiz Baltar


Escolhemos essa foto pela grande presença de pichações. O pixo, como é mais referido atualmente, é um tipo de manifestação presente no mundo há centenas de anos. Seus primeiros exemplos foram encontrados nas ruínas de Pompeia. Ironicamente, tal forma de expressão, mesmo tão antiga, ainda é combatida e tratada como algo marginalizado. A  realidade é bem diferente, como falaremos mais a frente.
Existem muitos debates sobre o assunto: pixo pode ser considerado arte? Muitos respondem que não, pois não é algo esteticamente bonito. E arte só é arte se agradar os olhos? Acreditamos que já passamos do ponto de reproduzir isso há décadas. Pixo é vandalismo? Bem, é algo a se considerar, pois muitas vezes é feito em áreas públicas ou em áreas privadas sem a autorização de quem a possui.
Mas, muito além de vandalismo, pichação fala sobre protesto: quanto a determinado governo ou situação – como os muros brasileiros durante à ditadura militar, as ruas parisienses em movimentos estudantis pela liberdade de expressão; protesto quanto à desigualdade social de jovens periféricos – sendo, ainda, uma forma de inserção na sociedade através da identificação de seus nomes em lugares que antes julgavam não pertencer; mais recentemente, também vemos muitas “tags” nas ruas em protesto ao machismo e a misoginia.
Entretanto, é cada dia mais comum vermos pessoas de classe média alta utilizando essa forma de expressão nas ruas. Há uns dois anos, uma “digital influencer” foi muito criticada por pichar os muros e banheiros de uma lanchonete. Muitos dos comentários na foto a questionavam: quem ela achava que iria esfregar aquelas marcas? Muito provavelmente uma mulher, periférica e que necessitava daquele trabalho. É justo, então, usar o pixo contra quem à princípio deveria se identificar nele? Sem ainda entrar em outro debates... as tintas mais utilizadas para a “marca” são em spray por um motivo óbvio: facilitam a fuga se for necessário, o que é ironizado na velha abertura de Um Maluco No Pedaço, em que Will finge estar usando as latas como desodorante para distrair um policial. Mas, no caso de uma pessoa de classe média, provavelmente branca, ser pega em flagrante enquanto faz sua marca, é nítido que não terá a mesma punição que a população marginalizada recebe.
Existe, também, todo um código entre os pixadores. Para eles, uma parede limpa não deve ser marcada, o que é considerado coisa de iniciante. A graça está em tentar encontrar um espacinho para seu nome no meio de muitos, isso está nítido na imagem que escolhemos. Também existem lendas sobre marcas comuns no Rio de Janeiro. Dizem que o pixo Mol, que infelizmente não temos fotos para ilustrar, é marcado diariamente por um taxista de meia idade. Infelizmente, não temos como descobrir a verdade acerca das tags e as histórias ocultas nelas, mas acreditamos que boa parte da diversão está nesse anonimato.

Atualmente, há um grande debate se a pichação deve ser considerada crime ou não. A discussão tornou-se ainda mais acalorada quando, em 2017, o então prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, sancionou uma lei que vetava o grafite e pichação nas ruas da capital paulista. Penalmente falando, a pichação é crime e a pena para os pichadores é de 3 meses a 1 ano de detenção, além de uma multa. Porém, o grafite não é considerado crime caso tenha o objetivo de valorizar um patrimônio, seja público ou privado, desde que a prática seja aprovado pelo responsável do local.

Por: Ingrid de Lima, Isabella Mendes e Laysa Cury.

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