terça-feira, 17 de setembro de 2019

Atlântico Vermelho

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Tendo em vista que uma das partes mais importantes de uma criação artística é seu/sua autor(a), é indispensável analisarmos um pouco a história daquela que deu vida a essa obra. Rosana Paulino, brasileira, nascida em 1967 é uma artista visual paulistana com doutorado em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes de São Paulo, e com especialização em gravura pelo London Print Studio, e um bacharelado em gravura pela ECA/USP. Além de ter sido bolsista do programa da Fundação Ford e Capes e também com uma bolsa residência no Bellagio Center da Fundação Rockefeller na Itália. E ainda foi vencedora dos Prêmios Bravo e ABCA (Associação Brasileira dos Críticos de Arte), na modalidade Arte Contemporânea.

Em face dos dados mencionados, torna-se possível agora analisar a autora junto ao contexto de suas obras. A mesma possui uma criação artística mais voltada a questões de cunho social como gênero e etnia, principalmente relacionada a mulheres negras. Também é relevante citar o fato de que a mesma possui, de certa maneira, o objetivo principal de expressar através de seus trabalhos a violência, da mais diversas formas, que a população negra tem historicamente sofrido ao longo dos anos por causa do racismo enraizado na sociedade, e as consequências deixadas pela escravidão. Tais constatações serão demonstradas conforme o restante do artigo for sendo desenvolvido em torno da obra em análise. 

A obra de Rosana Paulino “Atlântico Vermelho”, exposta pela primeira vez em 2016 na Galeria Superfície de São Paulo, segue a linha de suas obras anteriores ao expor questões sobre etnia, gênero e sociedade. Como artista afro descendente, uma entre os poucos que começam a ganhar espaço num circuito artístico predominantemente branco, a arte visual do Atlântico Vermelho surge da necessidade de uma narrativa exclusivamente negra, fruto de extensa pesquisa da artista sobre a posição do negro na sociedade, semeado de expressivo contexto histórico no que tangem os efeitos da colonização europeia. Ao conceber a obra, apresenta seu caráter artístico autobiográfico e o domínio em técnicas diversas, como a pintura, a fotografia, o desenho, a colagem e a tecelagem, além de trazer uma importante reflexão sobre a herança cultural do negro escravizado e a importância da desocultação da violência sofrida por esse grupo para análise de sua posição social no contexto atual. 

Com o passar dos séculos, milhões de africanos eram capturados e, consequentemente, vendidos como escravos pelos europeus. Tal atitude apresentava justificativas morais, legais, econômicas e religiosas para que ocorresse. Paulino, por meio de sua obra, mostra as duas principais violências realizadas pela modernidade européia, cujos efeitos persistem até a atualidade: aquela contra a natureza, vítima de um empreendimento colonial e aquela contra os escravizados, que acabavam por ser tomados como parte dessa natureza. Indica o quão forte é o cegamento diante dessa violência, ilustrado perfeitamente pelas censuras nos rostos de cada um dos indivíduos presentes na obra e o impacto causado pela invisibilidade da história e natureza negras.

Recebeu o nome de Atlântico Vermelho pelo motivo de que a artista dá maior enfoque ao tráfico de escravos que ocorria pelo Oceano Atlântico, principal cenário dessa comercialização.  O vermelho presente tanto no nome quanto na obra exemplifica a crueldade exacerbada contra os negros escravizados, dando ideia de acontecimentos sangrentos, munidos de dor e sofrimento.




Atlântico Vermelho aborda a temática das imigrações escravocratas nos navios navios negreiros. Já em “Parede de Memória” podemos notar uma grande ligação entre elas, a artista costura partes de corpos negros, representando a herança de 500 anos dias de escravidão nos dias atuais. Evidenciando a realidade de corpos negros, que ainda sofrem de racismo, desigualdades sociais e são impostos a ocuparem papéis de subalternidades. Rosana costura memórias do passado e ressalta a herança herdada pela escravidão, uma escravidão velada, onde corpos negros são escravos de um sistema racista. 




   

Nas peças redigidas por Rosana Paulino, percebe-se uma notória relação com a temática da disciplina Comunicação e Artes, devido a esta abordagem estar direcionada às migrações. A migração relatada nesta obra pode até ser considerada como migração forçada, uma vez que não foi por vontade própria e nem pelas circunstâncias, mas sim pelo movimento do capital que era gerado pela compra e venda de pessoas escravizadas. É muito importante ressaltarmos esse ponto, como muito bem feito pela autora da obra, e, percebemos como há uma relevância, juntamente com a segunda obra aqui mostrada, de relatar a luta contra o emudecimento dessa parcela da sociedade até hoje, depois da liberdade dos negros.


Por: Anna Toledo, Thycianne Sant'Ana, Leticia Ribeiro, Maria Luisa Mello e Paula Cardeal

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