Rosana Paulino é uma
artista visual brasileira, doutora na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo, que busca expor em suas obras fatores que estão presentes
em sua história e de seus ancestrais, sobretudo a condição da mulher negra na sociedade.
Na exposição “A Costura da Memória”, não é diferente, Paulino reúne esculturas, instalações, gravuras e desenhos e outros
suportes, que evidenciam busca da artista no enfrentamento com questões
sociais.
Entre as diversas obras da artista, a que mais nos chamou
atenção foi “Tecido Social” pelas diversas questões e interpretações que ela
possui. Segundo conceito da sociologia, tecido social é um termo para se referir
aos aspectos sociais de uma cidade, assim relaciona-se aos indivíduos, a coletividade, que estão ligados por relações sociais profundas, formando
uma malha social. Sendo assim, Rosana cria uma ambiguidade, pois além da obra
se relacionar com o termo, também faz referência ao seu sentido denotativo,
levando em conta que foi produzida através da costura sobre tecido.
Através de imagens, a composição aborda
diversas questões da sociedade em que vivemos. Rosana retrata a objetificação e
escravidão fazendo intertextualidade com dois retratos famosos da história, um
em que uma criança branca está montada em uma escrava, e no outro uma criança
com sua ama de leite. Em outra, mostra duas mulheres negras com vassouras na
mão, representando a servidão. Segundo a própria artista, em uma entrevista
concebida ao jornal Globo, seu objetivo era “associar
através de imagens essa passagem da mulher escravizada para a empregada
doméstica, das amas de leite para as babás”.
Com isso, evidencia a história da mulher negra, marcada pela opressão.
Além
dessas, outras imagens retravam a violência, através de armas; o consumismo,
com uma mulher com diversas sacolas de compras; a padronização, ao mostrar três
mulheres com roupas e estilos idênticos; a solidão e a perda da
individualidade, visto que todos estão com riscos nos olhos. A representação do
feto foi a qual mais nos deixou intrigado, pois segundo nossas interpretações,
pode ser uma referência tanto a questão do aborto, quanto um simbolismo de os
indivíduos estarem condenados a viver nesse mundo conturbado, antes mesmo de
nascerem.
Sendo
assim, ficamos impressionados como em apenas uma obra, Rosana Paulino conseguir
transcrever e fazer uma reflexão crítica de diversos aspectos da história de um
povo e da contemporaneidade. Além disso, a forma como tudo é costurado
(simbólica e fisicamente) é extraordinária, dando um aspecto original, que
representa a artista e sua história. Sendo assim, artistas como Paulino, e
composições como “Tecido Social” são necessários e expressam um grito de
revolta em uma sociedade que se apresenta muitas vezes cega, surda e muda para
essas questões.
Por: Camila Carreiro, Francisco Kalume, Liz Cerqueira
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