segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Denúncia Costurada


 Rosana Paulino é uma artista visual brasileira, doutora na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, que busca expor em suas obras fatores que estão presentes em sua história e de seus ancestrais, sobretudo a condição da mulher negra na sociedade. Na exposição “A Costura da Memória”, não é diferente, Paulino reúne esculturas, instalações, gravuras e desenhos e outros suportes, que evidenciam busca da artista no enfrentamento com questões sociais.
  
  Entre as diversas obras da artista, a que mais nos chamou atenção foi “Tecido Social” pelas diversas questões e interpretações que ela possui. Segundo conceito da sociologia, tecido social é um termo  para se referir aos aspectos sociais de uma cidade, assim relaciona-se aos indivíduos, a coletividade, que estão ligados por relações sociais profundas, formando uma malha social. Sendo assim, Rosana cria uma ambiguidade, pois além da obra se relacionar com o termo, também faz referência ao seu sentido denotativo, levando em conta que foi produzida através da costura sobre tecido.



  Através de imagens, a composição aborda diversas questões da sociedade em que vivemos. Rosana retrata a objetificação e escravidão fazendo intertextualidade com dois retratos famosos da história, um em que uma criança branca está montada em uma escrava, e no outro uma criança com sua ama de leite. Em outra, mostra duas mulheres negras com vassouras na mão, representando a servidão. Segundo a própria artista, em uma entrevista concebida ao jornal Globo, seu objetivo era “associar através de imagens essa passagem da mulher escravizada para a empregada doméstica, das amas de leite para as babás”.  Com isso, evidencia a história da mulher negra, marcada pela opressão.




  Além dessas, outras imagens retravam a violência, através de armas; o consumismo, com uma mulher com diversas sacolas de compras; a padronização, ao mostrar três mulheres com roupas e estilos idênticos; a solidão e a perda da individualidade, visto que todos estão com riscos nos olhos. A representação do feto foi a qual mais nos deixou intrigado, pois segundo nossas interpretações, pode ser uma referência tanto a questão do aborto, quanto um simbolismo de os indivíduos estarem condenados a viver nesse mundo conturbado, antes mesmo de nascerem.

  Sendo assim, ficamos impressionados como em apenas uma obra, Rosana Paulino conseguir transcrever e fazer uma reflexão crítica de diversos aspectos da história de um povo e da contemporaneidade. Além disso, a forma como tudo é costurado (simbólica e fisicamente) é extraordinária, dando um aspecto original, que representa a artista e sua história. Sendo assim, artistas como Paulino, e composições como “Tecido Social” são necessários e expressam um grito de revolta em uma sociedade que se apresenta muitas vezes cega, surda e muda para essas questões. 




Por:  Camila Carreiro, Francisco Kalume, Liz Cerqueira


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