terça-feira, 26 de novembro de 2019

Resistência

Claudia Andujar é uma fotógrafa suíça naturalizada brasileira em 1955. Seu primeiro contato com índios foi em 1958 durante uma visita à terra dos Karajá. Andujar conheceu o povo Yonomami através de uma edição da revista Realidade sobre a Amazônia, e a partir daí iniciou seu trabalho com eles.
 Na exposição, a fotógrafa procura não apenas capturar imagens como desenvolver intimidades para com aquele meio, aquela situação etc. Ela também faz questão de retratar a riqueza cultural do local e dos indígenas em cada fotografia. Esse processo foi tão importante que, mesmo a tribo evitando a fotografia, o trabalho de Andujar foi preservado, para que a documentação e representação daquele povo se mantivesse viva e defendida.
Cada detalhe é relevante, pois representa de forma minuciosa a cultura dessas tribos, sua rotina, seus costumes e suas tradições. Através de feixes de luz, brisas movimentando folhas e fumaça, Andujar trouxe vida para a fotografia de simples cenários do cotidiano da tribo. A fotógrafa também fez uso de aparatos externos como flashes e lamparinas e técnicas como sobreposição de elementos para contribuir com o resultado de cada fotografia.
 Durante a Ditadura Militar a tribo Yonomami sofreu pelas repressões e interesses econômicos nas florestas que levavam atividades ilegais para lá, como mineração, além de poluição e desmatamento. Por observar de perto e querer denunciar, a fotógrafa foi expulsa do local pela Funai. Suas fotografias foram de importantíssimo papel político naquele momento como formas de denúncia e retratos de identificação na luta pela demarcação das terras do povo Yonomami. A presença dos garimpeiros nas terras indígenas levou doenças graves como a malária, assim como em 1500 quando os Portugueses desembarcaram no Brasil, também acompanhados de doenças. Através da proliferação de doenças, violência e tentativa de invisibilidade do povo nativo, é um padrão que se repete desde o chamado “Descobrimento” do Brasil até toda e qualquer situação de interesse econômico para com terras indígenas.
Podemos relacionar a exposição com o texto “Involuntários da Pátria” de Eduardo Viveiros de Castro, que trata a importância da representatividade e proteção dos índios, a diferença entre índios e indígenas, a chegada dos Portugueses com a tomada de terras e o genocídio e a relação dos povos indígenas com suas terras e o Estado. Estado este que constantemente tenta apagar a importância de resistência das tribos indígenas brasileiras, tentando invadir as terras à que pertencem e violar seus direitos. Apagar as tribos sempre foi um projeto em 1500 e continua em 2019, seja através da limitação de sua cultura ou até do genocídio, e uma das forma mais eficazes disso é através do corte da relação dos nativos com a sua terra, sua identidade. “A terra é o corpo dos índios, os índios são parte do corpo da Terra. A relação entre terra e corpo é crucial. A separação entre a comunidade e a terra tem como sua face paralela, sua sombra, a separação entre as pessoas e seus corpos, outra operação indispensável executada pelo Estado para criar populações administradas.”
Os índios são uma das maiores, senão a maior, força de resistência no Brasil, lutando para manter suas origens e seu local de (r)existência.




Por: Breno Freitas, Esther Mesquita, Juliana Castelpoggi, Julya Monteiro e Luísa Machado

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