domingo, 24 de novembro de 2019

Andujar e a Questão Indígena



 As fotos acima fazem parte da exposição da fotógrafa e ativista Claudia Andujar no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. Os trabalhos de Andujar expostos buscam retratar a luta do povo indígena Yanomami. A foto da esquerda representa a terra-floresta que os Yanomami chamam de urihi. As da direita são registros de 1983 em Mucajaí, na Roraira, nos quais a posição do sol criou um efeito nas fotos quando postas em conjunto. 

“A terra é o corpo dos índios, os índios são parte do corpo da Terra”. Esse é um dos trechos de “Os Involuntários da Pátria” de Eduardo Viveiros de Castro. O texto discorre sobre a questão indígena no Brasil, como a relação do governo perante aos diversos povos, o passado maculado por sangue e suor, a generalização feita pelos brancos para rotulá-los, a identificação desses povos não como cidadãos de um Estado, mas como indígenas somente, entre outros assuntos importantes. 

É inegável que há fortes relações entre as fotos da exposição e o texto “Os Involuntários da Pátria”. Enquanto Eduardo Viveiros de Castro utiliza as palavras, tanto faladas quanto escritas, para transmitir às pessoas aquilo que todos devem ouvir acerca da população indígena e sua luta, Claudia Andujar usa as imagens para demonstrar o mesmo, porém, cada um com a sua perspectiva. Os dois trabalhos são tão conectados que deveriam sempre ser apreciados juntos, um complementando o outro por meio de suas diferentes narrativas. 

Como dito pelo antropólogo, ser indígena é possuir uma intensa ligação com a terra, é tirar a força do chão de onde se vive. Eles não possuem as terras em que habitam, não se consideram donos delas como os brancos cidadãos o fazem, mas pertencem à terra, fazem parte dela. É isso que os define. O solo sob eles não significa fonte de riquezas a serem exploradas descontroladamente, mas fonte de uma riqueza natural que lhes provém vida e que, por eles, é tratada com devoção e para a subsistência. A terra-floresta uhiri retratada por Andujar é um exemplo de tal comportamento indígena perante o ambiente em que vivem. Como a fotógrafa explica na descrição da foto, a floresta é tida como uma entidade viva, que engloba tanto seres humanos quanto não humanos, e seus donos são a natureza e os espíritos da floresta, que afastam as doenças e produzem ventos pelas matas. 

No entanto, os povos indígenas, como bem indicado em “Os Involuntários da Pátria”, foram perseguidos ao longo dos séculos, sendo maltratados desde o início da colonização no Brasil. Os brancos sempre quiseram o desaparecimento dessa população e sua cultura e, além de matá-los e explorá-los, os europeus se empenharam em exterminar os costumes indígenas. Para isso, os colonos impuseram o cristianismo com o objetivo de dizimar as religiões da população nativa, vestiram-nos, proibiram a utilização das diversas línguas aqui presentes e realizaram outras várias atrocidades. O agrupamento das doze fotos na Roraima escolhido acima, da exposição no Instituto Moreira Salles, elucida bem essa tentativa de exterminação das culturas nativas. Isso porque a posição do sol vai mudando ao longo das fotos, sendo a primeira mais clara e a última mais escura, escondendo os rostos. Esse efeito provoca a ideia de que, a partir do contato com os brancos e suas imposições culturais, a população indígena sofre com o desaparecimento de sua identidade. 

Grupo: Julia Menezes, Enzo Santoro, Pedro Fernandes, Letícia Gomes e Mayke de Aquino.

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