As fotos acima fazem parte da exposição da fotógrafa e ativista Claudia Andujar no
Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. Os trabalhos de Andujar expostos buscam retratar a
luta do povo indígena Yanomami. A foto da esquerda representa a terra-floresta que os
Yanomami chamam de urihi. As da direita são registros de 1983 em Mucajaí, na Roraira, nos
quais a posição do sol criou um efeito nas fotos quando postas em conjunto.
“A terra é o corpo dos índios, os índios são parte do corpo da Terra”. Esse é um dos
trechos de “Os Involuntários da Pátria” de Eduardo Viveiros de Castro. O texto discorre sobre
a questão indígena no Brasil, como a relação do governo perante aos diversos povos, o passado
maculado por sangue e suor, a generalização feita pelos brancos para rotulá-los, a identificação
desses povos não como cidadãos de um Estado, mas como indígenas somente, entre outros
assuntos importantes.
É inegável que há fortes relações entre as fotos da exposição e o texto “Os Involuntários
da Pátria”. Enquanto Eduardo Viveiros de Castro utiliza as palavras, tanto faladas quanto
escritas, para transmitir às pessoas aquilo que todos devem ouvir acerca da população indígena
e sua luta, Claudia Andujar usa as imagens para demonstrar o mesmo, porém, cada um com a
sua perspectiva. Os dois trabalhos são tão conectados que deveriam sempre ser apreciados
juntos, um complementando o outro por meio de suas diferentes narrativas.
Como dito pelo antropólogo, ser indígena é possuir uma intensa ligação com a terra, é
tirar a força do chão de onde se vive. Eles não possuem as terras em que habitam, não se
consideram donos delas como os brancos cidadãos o fazem, mas pertencem à terra, fazem parte
dela. É isso que os define. O solo sob eles não significa fonte de riquezas a serem exploradas
descontroladamente, mas fonte de uma riqueza natural que lhes provém vida e que, por eles, é
tratada com devoção e para a subsistência. A terra-floresta uhiri retratada por Andujar é um
exemplo de tal comportamento indígena perante o ambiente em que vivem. Como a fotógrafa
explica na descrição da foto, a floresta é tida como uma entidade viva, que engloba tanto seres
humanos quanto não humanos, e seus donos são a natureza e os espíritos da floresta, que
afastam as doenças e produzem ventos pelas matas.
No entanto, os povos indígenas, como bem indicado em “Os Involuntários da Pátria”,
foram perseguidos ao longo dos séculos, sendo maltratados desde o início da colonização no
Brasil. Os brancos sempre quiseram o desaparecimento dessa população e sua cultura e, além
de matá-los e explorá-los, os europeus se empenharam em exterminar os costumes indígenas.
Para isso, os colonos impuseram o cristianismo com o objetivo de dizimar as religiões da
população nativa, vestiram-nos, proibiram a utilização das diversas línguas aqui presentes e
realizaram outras várias atrocidades. O agrupamento das doze fotos na Roraima escolhido
acima, da exposição no Instituto Moreira Salles, elucida bem essa tentativa de exterminação
das culturas nativas. Isso porque a posição do sol vai mudando ao longo das fotos, sendo a
primeira mais clara e a última mais escura, escondendo os rostos. Esse efeito provoca a ideia
de que, a partir do contato com os brancos e suas imposições culturais, a população indígena
sofre com o desaparecimento de sua identidade.
Grupo: Julia Menezes, Enzo Santoro, Pedro Fernandes, Letícia Gomes e Mayke de Aquino.
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