quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O afeto da efemeridade


Mulher, carioca, artista, frequentadora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, participante do Grupo Visorama, Brígida Gioseffi Baltar é plural em seu ato de ser, porém, o que está para além dessas identidades? Aos 22 anos, Brígida participava de grupos de estudo e vivência pautados na educação, fazia teatro e, englobada por movimentos estudantis, migrou do curso de Arquitetura para História. Todavia, sem perder o apreço ao desenho, encontrou-se na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, palco do seu desdobrando e contato com as artes plásticas: cores, formas e expressões. Ao longo dessa trajetória de mudanças e transformações interruptíveis, Brígida versa com impressionismo até se desprender dele quando grávida. A trajetória como artista não estagnou, dialogando com as artes gráficas até se aproximar seus trabalhos mais atuais - envolvendo ainda toda experimentação de cores e grafismo.

Abrigo, 1996
“A impressão que dá é que cada verão era uma eternidade de acontecimentos”¹
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Brígida se deita na melancolia, usa da memória e do afeto. Suas fotografias contém silêncio, cheiro e temperatura. São extremamente sensoriais. A neblina que esfria, embaça. A imensidão da paisagem e sua pessoa que ali fica, sente, observa. É um conjunto de sensações e emoções. No projeto Umidades - que envolve A Coleta da Neblina, desenvolvido entre 1994 e 2004, ela encapsula elementos presentes na paisagem em frascos. Não como trancafiar, mas proteger. Sua relação com os frascos são retratos, cartões-postais desse tempo, momento e experiência. O ar, a água, a planta, a evaporação, figuras que compõem essa memória e sentimento, que desconstroem e reconstroem essa natureza imersiva. Há o vazio, o espaço do respiro e do pensar, do sentir ao admirar as fotografias e os vídeos performance da artista. Só há a possibilidade de sentir, deixar ser afetado. Não por uma escolha, mas por consequência do envolvimento do público com a obra.
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A vastidão da poesia, a troca da ausência de diálogo verbalizado, direto, somente o estar sublime. Brígida produz e reúne nesse projeto obras que estão ali e que induzem o espectador a adentrá-las. Seja pela dor, pelo aconchego, saudade ou vazio, a composição flerta com a atmosfera de sonho, ficção, fabulação, com sentidos internos, imateriais. O espectador bebe dessa efemeridade. Uma linha tênue entre a distância do observador da obra e a aproximação sensível.

  • Beatriz Chalhub, Gustavo de Queiroz e Rômulo Alberto.



Bibliografia:

¹Passagem Secreta, Livro da obra de Brígida Baltar - Entrevista de Marcio Doctors 
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra63219/a-coleta-da-neblina
Imagens:
A coleta da Neblina


Imagem representativa do artigo

mais link:
http://eavparquelage.rj.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/legendas_brigida-06_site.pdf
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-61582013000200016
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Entrevista:

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